EXPLORANDO IDEIAS
Artigos de Vander Luiz Rocha


Servir é o Verdadeiro Prêmio:
A metáfora da faxineira do céu

Houve um dia, pela manhã, que, passando em frente a um colégio católico, tive a atenção voltada para o portão aberto, onde freiras recebiam crianças trazidas pelos pais para o turno de aulas que estava por começar.

O carinho, o sorriso espontâneo e a simplicidade com que executavam aquele trabalho, diziam fazerem o que gostavam. Mas perguntei a mim se aquela espontaneidade era fruto de doutrinação recebida pelos dogmas da igreja ou se vinha como forma natural de comportamento ditado pela alma.

Senhora! Posso lhe fazer uma pergunta?

Sem tirar a atenção do que fazia, balançou a cabeça afirmativamente.

Usando de linguajar cristão, fiz a pergunta esperando como resposta ser recebida pela virgem santa ou algo semelhante, no entanto, fui surpreendido:

Quando a senhora deixar o seu corpo, como espera ser recebida no céu?

Ela, não se arredando dos afazeres, respondeu:

"Se me for concedido ser faxineira do lado de fora do céu, já estarei premiada."

Todo aquele comportamento ao receber as crianças era natural, santificado. Dogmas, doutrinações, conceitos, castigos ou prêmios não conseguiram mudar o que é puro.

Ser o faxineiro do lado de fora do céu é como ser a estrela mais tímida no horizonte, aquela que brilha em silêncio para iluminar os caminhos que levam ao infinito. Essa metáfora, dita por ela, fala de humildade e gratidão. Mesmo que não se adentre ao salão celestial, estar nas proximidades já é um prêmio maior do que muitos imaginam alcançar.

Imagine o céu como um grande palácio de luz, e o faxineiro, ainda que do lado de fora, tem a chance de tocar as paredes douradas e sentir o calor do que há além. Ele remove a poeira do caminho, permitindo que outros cruzem a porta com passos limpos, e, nesse ato de servir, já experimenta o reflexo da glória divina.

Ser "do lado de fora" não é um castigo, mas uma oportunidade de aprendizado e amor desinteressado. é como ser o vento que não é visto, mas que carrega a fragrância das flores do jardim celeste, espalhando uma bênção invisível aos que passam.

A metáfora também carrega a lição de que o valor espiritual não está no lugar ocupado, mas na disposição de servir. O faxineiro do céu é como o guardião da entrada: sua presença assegura que a beleza do interior continue pura, que o fluxo de almas encontre um caminho acolhedor. Ao assumir esse papel, ele testemunha a luz que transborda das janelas eternas e talvez até se torne parte dela, pouco a pouco.

Seja do lado de fora ou dentro, estar próximo do céu é já habitar a eternidade, como um rio que dança nos arredores do oceano, sabendo que, cedo ou tarde, será abraçado por ele.

 
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